sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

“Meu desejo é que seu desejo não me defina!” É carnaval e não pode tudo: deixem nossos corpos em paz!


O carnaval por mulheres negras

Os primeiros folguedos (maracatu, bumba meu boi, congadas, jongo, afoxé, entre outros) e as primeiras escolas de samba e blocos de carnaval tiveram origem no final do século XIX nas periferias do Brasil e são parte das diversas ações de associativismo negro no pós-abolição, como uma maneira de (re) existir, valorizar a cultura e denunciar a situação de vida do povo negro através dos enredos, fantasias e a temática dos blocos.

Essas manifestações – inicialmente brutalmente criminalizadas - atualmente foram cooptadas por esse mesmo país, transformada em abundante fonte de lucros e uma marca da nação, agora com uma profunda diferença: ainda que muitos grupos negros lutem para preservar o caráter de resistência, o espaço do carnaval como um todo perdeu combatividade.

Ao mesmo tempo que nesse período é mais comum vermos rostos negros na televisão, revistas, nas mídias em geral é necessário problematizar as representações sociais, estereótipos e o reforço aos estigmas racistas historicamente construídos. Os corpos das mulheres negras são colocados como cartão de visitas e ultrassexualizados, no papel da mulata erótica tipo exportação que, principalmente nesse período, estará mais disponível para a satisfação dos interesses machistas, em especial dos homens brancos e estrangeiros.

“Não deixe que te façam pensar que o nosso papel na pátria É atrair gringo turista interpretando mulata” (Yzalú/ Eduardo)

Em contrapartida, é comum vermos que mesmo em espaços majoritariamente negros, xs brancxs são os protagonistas e xs negrxs coadjuvantes, sendo que os lugares mais visados são ocupados por não negrxs. Um grande exemplo disso é posto de Rainha do Bateria das grandes escolas de samba brasileiras, o qual na maioria das vezes é ocupado por celebridades brancas e não pela menina negra que cresceu na escola , se preparando e desejando esse posto a vida inteira. Ao passo que o lugar de mulata é um lugar de objetificação, é pertinente que critiquemos que cada vez mais negrxs tenham os espaços de “destaque” ceifados pela branquitude. Consequentemente a valorização da branquitude dá conta de dividir os próprios negros entre os mais aceitáveis e menos aceitáveis. Um exemplo elucidativo disso foi a troca da globeleza Nayara Faustino por Erika Moura, sendo a primeira rejeitada pela Globo e por parte do público por possuir mais melanina na pele e traços menos “finos”, ou, em outras palavras, socialmente mais próximos do padrão branco. Reconhecemos que ambas sofrem as mazelas do racismo, mas suas experiências são diferenciadas, resultado do colorismo. (Blogueiras Negras, acessado em jan/2015)

A intenção desse texto não é acusar xs irmaxs que constroem esses espaços, mas sim desconstruirmos os elementos machistas, racistas e LGBTfóbicos que fundamentam essa realidade e o caráter comercial que o carnaval passou a ter.





Outra questão violenta que nos incomoda é a apropriação desrespeitosa de nossos símbolos de resistência e de luta. É usual vermos pessoas brancas se fantasiando de negrxs, com perucas black Power, turbantes, black face, enchimentos de seios e de nádegas para representar de forma estereotipada, ridicularizada e racista a figura da mulher negra.

Antes mesmo do carnaval tivemos que nos deparar com figuras públicas ridicularizando a figura das mulheres negras, através de black faces e relativizando as denúncias de racismo sob a justificativa de estarem produzindo ”humor”.




Deixamos bem enegrecido aqui: ninguém tem liberdade poética para ser racista! Reafirmamos o que foi dito pela irmã Djamila Ribeiro: Mulher negra não é fantasia de carnaval! (Carta Capital, acessado em fev./2015).

É necessário enfatizarmos que realmente existem pessoas brancas e não-negras que podemos considerar aliadas na luta antirracista, envolvidas intensamente com carnaval, música negra etc, e que essa participação não é um problema em si. Porém, precisamos problematizar os locais de fala e atuação desses sujeitos socialmente privilegiados e repudiar a apropriação descuidadosa e desrespeitosa de gente que só lembra de preto enquanto fantoches de seus projetos “cult” de produção cultural, como se fosse necessária a sua aprovação para legitimar a nossa cultura.



REFERÊNCIAS NEGRAS:

Colorismo: o que é, como funciona:  http://blogueirasnegras.org/2015/01/27/colorismo-o-que-e-como-funciona/

Colorismo: quem decide? http://blogueirasnegras.org/2015/02/03/colorismo-quem-decide/

Mulher negra não é fantasia de carnaval: http://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista

Mulheres negras - Yzalú/ Eduardo: https://www.youtube.com/watch?v=122kwdWN-v0



sexta-feira, 4 de abril de 2014

Moção de repúdio do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp ao ataque racista sofrido pela militante Tais Telles na Unesp, campus de Presidente Prudente

Viemos por meio desta manifestação relembrar um fato que ocorreu semana passada na UNESP, campus de Presidente Prudente, pois a opressão não vai silenciar os oprimidos. Isto deve ser combatido todo o dia, em todos os espaços e das maneiras necessárias para que um dia possamos acabar com a exploração e opressão que cai sobre as pessoas negras deste país. Viemos resgatar o caso de racismo que aconteceu com a companheira Tais Telles, militante do coletivo Mãos Negras, estudante de Geografia da UNESP de Presidente Prudente, e manifestar repúdio a exposição violenta e racista que sofreu e também a todos e todas que ainda usam a cor da pele para oprimir e subjugar o povo negro.

A Universidade racista, machista, homofóbica, elitista e etc. é um espaço que exclui de todas as formas possíveis a presença dos grupos oprimidos e explorados de suas dependências e dos seus espaços de decisão, pois a sua formação vem com o propósito de formar os filhos das elites para ocupar posições de mando, organizar e disseminar a Ideologia burguesa. Quando alguns jovens pobres, negros e negras enfrentam a barreira social que é o vestibular e têm acesso à “torre de marfim” do conhecimento, o racismo se manifesta de todas as maneiras que podem ser colocadas: o racismo pseudocientífico, o racismo nos olhares para nossos cabelos e nossas roupas, as posturas reacionárias em relação a programas de cotas raciais como hoje acontece na USP e na UNICAMP por parte dos gestores destas instituições e as práticas cotidianas como a violência sobre Tais Telles que foi taxada como “macaca”, “safada” e “preta” em uma pichação na porta de uns dos banheiros da Universidade. 

O racismo permeia as bases da organização da sociedade. Ignorar o que aconteceu na UNESP é contribuir para reprodução desta ideologia racista barata. Mais uma vez uma mulher negra que se propõem a construir um debate combativo em relação a sua condição é oprimida e subjugada. Isto é inaceitável! Todos nós, militantes negros, não permitiremos que isso passe despercebido, pois o racismo não pode ser ignorado na nossa sociedade: ELE TEM QUE SER IDENTIFICADO E ARRANCADO DO NOSSO COTIDIANO! Que fique claro, não só para o racista que exerceu esta violência sobre a Tais, mas para todos os outros racistas, que eles não calarão nenhuma voz negra: NEM A DELA NEM A NOSSA. Por isso, repudiamos todos os atos de racismo medíocres e nojentos e destacamos que eles serão combatidos com muita luta! Que o covarde que a agrediu não circule mais entre os estudantes e que na Universidade não tenha lugar para ele como para nenhum racista. 

TOTAL APOIO A COMPANHEIRA TAIS! PELO FIM DO RACISMO E DA EXPLORAÇÃO SOBRE, HOMENS, MULHERES, NEGROS E NEGRAS! RACISTAS, FASCISTAS E MACHISTAS NÃO PASSARÃO!

Campinas, 04 de Abril de 2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

Calourada Negra 2014

No dia 20 de fevereiro o Núcleo de Consciência Negra da Unicamp ocupou a Praça do Ciclo Básico com stencil, cartazes, capoeira e outras atividades. No dia 20 de março promovemos o Cinegrada, cine-debate com o filme "Um Grito de Liberdade" em celebração ao 21 de março, Dia Internacional de Combate ao Racismo. Confira algumas fotos do "Ocupa PB"! (clique na imagem para ampliar)